37ª Moenda da Canção

DUAS VOZES DE CANDOMBE

Criado por Mariana Vellinho, de Porto Alegre, Ângelo Franco de Santiago e Miguel Tejera, de Rivera
Intérprete: Pirisca Grecco

Mediador (fala)
— Somos feitos de matéria e espírito…
A casca, superficial e efêmera, veste a essência que permanece intacta.
Existe dualidade em nós e em tudo que nos cerca: se estamos de olhos fechados não quer dizer que não possamos ver…
Saboreamos a noite porque sabemos que amanhã nascerá o sol.
 
A dúvida existe para podermos escolher: ser levados pela correnteza ou o próprio caminho fazer.

Tema 1:
“Cai a noite, sobre o sol
Mostra sua sombra
A lua já se esvai em cor
Sobre tua alcova
Candombe canta o amor
 
e sangue.

E se sopra o vento nessa noite
É pra te levar quem sabe aonde
Ninguém sabe quem beijar
 
Tua fronte.

Pode ser canto
Beijo de fada
Ninando sonhos
Na madrugada

Pode ser treva
Turvando as horas
Roubando almas
Antes da aurora”

Figura A:
— A cada dia que te vês afogado em pranto,
E imploras por misericórdia
A milícia brilhante dos que te guiam
Desvia doença e discórdia
E ao passo que baixa a poeira
Mais te escurece a memória
Não sei porque cargas d’água segue assim a tua história!
Se o pouco é culpa dos céus, porque são tuas as glórias?

Figura B:
— Sentes o calor tranqüilo da minha companhia?
É só querer…
Não há cobrança no mundo real dos amigos,
É fácil ver
Faço por ti, não quero saber, depois se vê.
Se é alma que peço não vais precisar
Depois de morrer.

Tema 2
“Segue a noite a perguntar
Com seus mistérios
O silêncio grita em paz
Pelo hemisfério
Candombe bate o tambor
Do tempo.”

Mediador
 Batem os tambores do tempo
Na sua cronologia
E na angústia dos relógios
As horas matam os dias
Depois sangrando em minutos
Sua ampulheta vazia
Diz que o eterno está velho
Desde que o mundo nascia
Desde que o mundo nascia.

Figura B:
— Por que vais viver sofrendo
se tens melhor opção?
Por que as geleiras do inverno
se tens o sol do verão?
Por que se te dão é benção
Se te dou é tentação?
Eles te cobram agora
Prometendo redenção
E eu, que não peço nada,
Sou taxado de vilão.
Quem garante que depois
Eles não te deixarão?
Quem garante que o depois
Não passa de uma ilusão?

Figura A:
— Um dia tu abriste os olhos 
junto ao colo materno
Bebeste o leite sagrado
Das fontes do amor eterno
Que jamais te fora pouco
No seu sentido mais terno
E ainda vens ponderar
Sentenças vindas do inferno?
Quem pensas que te cuidava
Da primavera ao inverno
Quando só havia inocência
No teu coração fraterno.

Tema 3:
“Vai a noite brilha o sol
Segue o destino
Novo dia, nova luz
Sobre o caminho
Candombe segue a bater
No peito

E quando tudo passa fica o nada
Que não é vazio
 
porque tem cara
Cara de tristeza disfarçada

E o seu sorriso
Que veste pranto
Ninguém enxerga
Eu te garanto

Assim é a vida
‘ser ou não ser’
Já disse um homem
Por não saber”

Mediador:
 Não há quem diga onde está o seu verdadeiro eu
Se na face exposta à luz, ou no que a noite escondeu
Tambores batem no peito, ninguém sabe quem bateu
São duas as mãos do tempo, a que está e a que se perdeu
Duas sementes de som desde que o mundo nasceu
Tamborilando das trevas ao alvo mundo de Deus
Um candombe que não finda porque não amanheceu.

Ficha Técnica:
Alejandro Massiotti – mediador
Mariana Vellinho – figuras A e B
Pirisca Grecco – voz
 
Ângelo Franco – voz
Daniel Zanotelli –sax
 
Eduardo Varela – piano
 
 ngelo Primon – guitarra
Miguel Tejera – contrabaixo
 
Mimo Aires – percussão
Martin Cruz – bateria
 
Mirco Zanini– iluminação