(Felip Elizalde)
Intérprete:Felipe Elizalde
Aqui me ponho a cantar
as coisas que ao cantar me vêm
cantar me leva a lugares
onde estar jamais pensei.
Estar ao pé de um poema
feito em mim por quem não sei
poema feito de outros
poemas – de onde vêm?
Vêm de viagem no verso de tudo
vêm pela via, ao redor reluz
poema nasce andaluz
vai do Alegrete ao Bom Jesus
ponteando nasce ao pé da cruz
no passo de los libres
vai de Buenos Aires a Valparaíso
vem até onde estou
vem de onde nunca se soube
como alguém foi e voltou.
Voltou e viu no Rio Pardo
um tempo que era vivo então
uns dias andam por perto
outros dias longe vão.
E vê-se tempos em tempos
feito trens em baldeação
uns tempos andam nos trilhos
outros saltam do vagão.
Saltam no escuro asfalto futuro
a lua cheia lhe dá a luz
um tempo canta enquanto rui
outro se encanta enquanto flui
tempo de trégua onde não fui
o tempo – todo – é guerra
tempo que se apaga
tempo que se apaga
tempo: trem pagador
paga os silêncios dos pagos
e apaga o esplendor do esplendor.
Olhando o halo da lua
só comigo deparei
parei pra ter a beleza
a lembrar quem não tem.
“Beleza não põe mesa”
“beleza não traz vintém”
beleza põe na tristeza
o dom de uma alegria além.
Éramos feitos a ferro e a fogo
éramos feitos a mão
éramos uns dias loucos
outros pelo diapasão
No longo lombo do tempo
o sol revai, revém
vai no desleixo do eixo
vem vindo sobre o trem.
Violão: Felipe Elizalde
Tablas e Buli: Filipi Lua
Baixo: Ricardo Baumgarten
Arranjo: ColetivoS