(Ricardo Freire/ Jaime Vaz Brasil)
Intérprete: Piriska
Ritmo: Milonga
Santa Maria/ Porto Alegre – RS
Filmar o amor em fuga
enquanto assim se apresenta-
é anoitecer um brilhante:
só mesmo em câmera lenta.
Não da máquina, mas dele
no breve instante em que some
contra algum muro de nuvens
e perde o rosto e o nome.
Lentificá-lo em palavras seria, talvez,
um jeito de tomar-lhe bem o pulso
ou mesmo sondar-lhe o peito?
As razões de cada escape
à s vezes correm as vistas
mais escoladas na história
de ler motivos, em lista.
Quando há medo, mesmo ao pássaro
é falso o vôo liberto.
(É fuga em busca de água
rumo à boca do deserto).
O pensá-lo mais concreto
esgota a água e a sede.
(É a colher gasta em silêncio
no arranhar da parede).
O amor à sombra da fuga
atravessa o vão do muro
e enquanto foge de si,
engole o próprio futuro.
Por isso, leva-se aos ombros
em sina longa e estranha:
é sombra pesando aos passos
e ao corpo sempre acompanha
E assim – por onde adormeça
-carrega nele o dilema
de, mesmo ao dizer-se livre,
expor as suas algemas
Contra-baixo: Ricardo Baugarten
Teclado e Voz: Ricardo Freire
Violão: Erlon Pericles
Percussão: Sandro Cartier
Acordeon: Leandro Rodrigues