A linha da minha mão
É uma picada escondida
Chegada, passo e partida
Em brumas de cerração.
Há quem chame de destino
Outros de linha da sorte
Pra mim, linha de fronteira.
Tatuada entre vida e morte.
Me tocou sorver poeira
Yuyo amargo e canha branca
Me tocou ser o que canta
Sobre o risco da fronteira.
Me tocou o poncho no braço
Adaga na outra mão
Me tocou rachar o chão
Na fornalha do mormaço.
Eu sou fronteiro de aqui
Eu sou fronteiro de allá
Igual aos punhais de gelo
Que o frio atirou no pelo
Das tropilhas do Aceguá.
Aqui só existe uma escrita
E o “não” nunca será o “sim”
Aqui a frase mal dita
Nem sempre chega no fim
Aqui aspa de malino
E golpe de manotaço
Se apruma quem guarda o tino
E alguma força no braço.
Laço remalha e rebenta
Potro sente e se boleia
Eu vivo onde a morte espreita
E o fio da vida tenteia.
A fronteira tem três lados
Embora pensem ser dois
Tem o antes e o depois
E o cruzar, que é o mais amargo.
Eu sou fronteiro de aqui
Eu sou fronteiro de allá
Igual aos punhais de gelo
Que o frio atirou no pelo
Das tropilhas do Aceguá
E quando a linha trilhada
Na mão se apaga do couro
Meu corpo de cinza e água
É o chão das covas de touro
Passa o vento das geleiras
Assoviando no alecrim
Solta os cavalos pra mim
Segue riscando fronteira.
Canta o vento das geleiras
Anunciando nas ramadas
Chega ao fim minha cruzada
Seguem só , vento e fronteira.
Eu sou fronteiro de aqui
Eu sou fronteiro de allá
Igual aos punhais de gelo
Que o frio atirou no pelo
Das tropilhas do Aceguá.