O sangue jorrava das peles escuras
Tingindo de rubro o convés das fragatas
E o sal do suor queimava a amargura
Das chagas abertas por fome e chibata
E o João que lutava pela liberdade
Foi João, foi Miguel, foi Silva, foi tantos…
Guerreiros da raça, sem rumo ou guarida
Perdidos na proa, nos seus desencantos
Armados nas barras dos encouraçados
Os negros, suas guias e seus orixás;
E o João castigado de açoite e vergonha
Lutou por justiça e direitos iguais.
Nas cândidas águas da azul Guanabara
O João foi buscar respeito e desforra
E o sonho vencido pela tirania
Nasceu novamente no frio das masmorras
O sangue do sul corria nas veias
E o ardor libertário do pago distante
Em vez de coxilhas, no mar das sereias,
O filho de escravos se fez Almirante.
João Cândido Felisberto, também conhecido como “Almirante negro” (Encruzilhada do Sul, 24 de junho de 1880 —Rio de Janeiro, 6 de dezembro de 1969) foi um militar brasileiro da Marinha de Guerra do Brasil, líder da Revolta da Chibata (1910). Filho dos ex-escravos João Felisberto e Inácia Cândido Felisberto, apresentou-se, ainda com treze anos, em 1894, na Companhia de Artífices Militares e Menores Aprendizes no Arsenal de Guerra de Porto Alegre2 Em 1895 conseguiu transferência para a Escola de Aprendizes Marinheiros de Porto Alegre, e em dezembro do mesmo ano, como grumete, para a Marinha do Brasil, na capital, a cidade do Rio de Janeiro.Tornou-se muito admirado pelos companheiros marinheiros, que o indicaram por duas vezes para representar o “Deus Netuno” na travessia sobre a linha do equador, e muito elogiado pelos oficiais, por seu bom comportamento, e pelas suas habilidades principalmente como timoneiro. Era o marinheiro mais experiente e de maior trânsito entre marinheiros e oficiais, a pessoa indicada para liderar a revolta, na opinião dos demais líderes do movimento.